Ruy Barbosa
   
Ruy Barbosa - Vida pessoal


Mas o ser humano não se pode considerar tão-somente pela fidelidade ao ideal ou pela combatividade política. Há que conhecer-lhe também a face romântica ou sentimental, pois ninguém ignora a força do coração e de suas paixões no comando do processo da vida individual. A do nosso insigne conterrâneo, sob tal aspecto, em nada absolutamente se distingue da do mais obscuro homem comum, como se pode verificar através de suas poesias, todas hoje reunidas no Tomo II do vol. 1º, de suas Obras Completas, e da correspondência mantida com Maria Augusta, na breve fase anterior ao seu casamento, a qual se acha toda em Cartas à Noiva, co-edição da Fundação Casa de Ruy Barbosa e Civilização Brasileira (1982).

 

Em 1876, surge-lhe o amor definitivo de toda a vida - Maria Augusta. Uma revolução em sua vida. E um semestre adiante já estavam casados. Pouco antes teve que fazer uma experiência no foro da Corte, em busca de melhores rendimentos profissionais. E aí começa uma unilateral correspondência amorosa de sessenta e quatro cartas, entre os dias 25 de maio e 8 de novembro de 1876.

A primeira, escrita ainda a bordo do navio alemão Habsburg, às sete e meia da manhã de 25 de maio, assim começa: "Maria Augusta, minha muito querida noiva: Passou a primeira noite desta amarga ausência; e o primeiro pensamento meu, ao amanhecer, não pode ser outro senão buscar, conversando contigo daqui, uma consolação a tão dolorosas saudades. Há pouco perdi a terra de vista; mas minha alma não perdeu a vista de ti. Tua imagem, tua alma estão em mim como na presença". E de bordo ainda lhe escreveu mais três delicadas mensagens de amor.

Da Corte mandava-lhe novidades musicais para canto e piano (Maria Augusta tocava e cantava). Quando da remessa do Plaisir des Champs, uma composição de Lambert, acrescentou este lembrete:"... É um trecho lindo; e, não sei por que, lembrou-me vivamente aquele domingo, na Barra, em que passamos horas à sombra das árvores... éramos tão felizes!"

Com todas essas saudades, pôde discursar, por duas horas, sem ler, no auditório do Grande Oriente Unido do Brasil, sobre a Situação da Questão Religiosa no Brasil, e de tal modo o ovacionaram, foi tão inesperada a repercussão de suas idéias, que imediatamente escreveu a Maria Augusta contando tudo, na plenitude da felicidade que sentia.

A união matrimonial realizou-se a 23 de novembro de 1876, tal como programada, na residência dos pais de Maria Augusta. A esta, daí por diante, sempre homenagearia de público. O grande livro de suas lutas contra a ditadura do marechal Floriano Peixoto a ela foi assim dedicado: "A minha mulher, cuja simpatia corajosa e eficaz por todas as causas do coração, da liberdade e da honra tem-me sido sempre inspiração e alento nas boas ações de minha vida". ( O casal na foto ao lado)

Ao empreender a sua derradeira campanha política na Bahia, em 1919, maratona de discursos lidos, entrevistas, viagens desconfortáveis sob intenso calor, homenagens, almoços, jantares, e até um baile, tudo em pouco mais de vinte dias - tarefa extenuante mesmo para pessoa jovem e de muita saúde, Maria Augusta não o acompanhou, permanecendo na capital do estado. A 24 de dezembro de 1919, senhoras de Feira de Santana a ela prestaram uma homenagem especial, a que o marido agradeceu com estas palavras escritas: "Meu pai me deu o caráter; minha mãe me deu o coração, e minha mulher a âncora do meu coração e do meu caráter. O que a ela devo é tanto que toda a minha vida a ela imolada seria apenas uma exígua parte da minha dívida. Hoje, volvendo os olhos ao caminho que tenho percorrido, e aos 43 anos de comunhão com a companheira de minha existência, vejo que ela constitui a parte melhor do meu coração e me tem dado a melhor parte de sua vida".

A 1º de março de 1923, abalado por desgosto político, sofreu a crise fatal, quando veraneava em Petrópolis. Amigos fiéis imediatamente acorreram à cidade das hortênsias. Maria Augusta estava ao pé do leito do amado e, segundo narra João Mangabeira, testemunha presencial da cena, "indaga-lhe se a reconhecia, e ele, com voz débil: por que não? e tomou-lhe entre as suas mãos as mãos daquela de quem com toda a propriedade e justiça dissera ter sido a flor sempre aberta da bondade divina no seu lar".

E assim, de mãos entrelaçadas, os dois se separaram até a outra vida.

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A casa de Rui Barbosa

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Fonte Textos: SESC SP | Casa de Rui Barbosa
Fonte Vídeo: YouTube
Fonte imagens: MiniWeb Educação (coletadas da Internet)

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