BULLYING
 

BULLYING - quando a brincadeira perde a graça!

Introdução: O bullying é um fenômeno mundial que pode ser a causa de uma violência “sem explicação”, praticada por jovens de classe média e alta. Jovens que têm tudo, pelo menos do ponto de vista material. Lembra do caso do índio Galdino, que dormia num ponto de ônibus, em Brasília, quando cinco jovens botaram fogo em seu corpo? Galdino morreu. Os advogados dos garotos tentaram alegar que foi uma brincadeira, mas eles haviam derramado um litro inteiro de álcool sobre o corpo do índio e nem o socorreram quando o fogo se alastrou. Ficou a pergunta: porque eles fizeram aquilo?

A palavra bullying é originária do verbo de língua inglesa to bully, que significa maltratar. O termo surgiu na Grã-Bretanha para designar uma forma de crueldade que se dava na relação entre crianças e adolescentes. A Associação Brasileira de Proteção da Infância e Adolescência (Abrapia), por exemplo, diz o seguinte do bullying: “é quando se usa do poder ou da força para intimidar ou perseguir os outros. As vítimas de intimidação normalmente são indefesas e incapazes de motivar outras pessoas para agirem em sua defesa. Trata-se, infelizmente, de um problema que afeta as nossas escolas, comunidades e toda a sociedade”.

O bullying ocorre entre iguais, no caso entre estudantes. Está relacionado a atitudes agressivas, intencionais e que se repetem. Causa dor e angústia. Pode se manifestar num simples apelido: se a criança ou adolescente que recebeu o apelido se sentir ofendida, e se os colegas insistirem na brincadeira, esta deixa de ser brincadeira e passa a ser uma agressão. A insistência pode ainda alimentar uma revolta, desencadear uma agressão física. E quando esse sentimento é reprimido, as conseqüências da angústia e do sofrimento contínuos para a formação da personalidade são pouco previsíveis. Esta é a vítima. Por outro lado, o adolescente que pratica o bullying pode vir a tocar fogo no corpo das pessoas quando estiver mais velho, porque não foi repreendido quando constrangia, ofendia ou mesmo agredia o colega na escola, no esporte, na piscina, na balada.

 

Mas o que leva crianças e adolescentes a serem cruéis com seus próprios colegas? Para a psicóloga e psicanalista Artenira Silva e Silva, nós estamos num momento em que a adolescência, principalmente de classe média, vive um conflito muito grave sobre o que é certo ou errado. “Existe uma dificuldade muito grande do adolescente de classe média, hoje, em identificar o que é, e o que não certo. Até onde ele pode ir e quando ele vai atropelar o direito de outra pessoa”. Outra dificuldade em relação ao bullying diz respeito às escolas que ainda não sabem lidar com o assunto.

O bulliyng não se trata só de brincadeiras inconvenientes, ele também passa pela sexualidade, um exemplo disso foi um caso onde uma menina de sete anos foi dominada por dois colegas para que um terceiro lhe desse um beijo na boca. A menina se revoltou e comunicou aos pais que foram até escola e exigiram providencias. Os pais do menino disseram que o garoto era apaixonado pela menina e só tinha sete anos, e por isso era injusto puni-lo, pois o mesmo só queria ser carinhoso. “A mãe só esqueceu que o carinho do menino implicou em violência, e que carinho se conquista em qualquer idade, seja ela qual for. Por isso, se a mãe continuar alimentando o comportamento do filho, dá pra imaginar o que ele fará com 15 anos”, alertou Artenira.

Por não existir uma palavra na língua portuguesa capaz de expressar todas as situações de possíveis, o quadro, a seguir, relaciona algumas ações que podem estar presentes:

Colocar apelidos
Ofender
Zoar
Gozar
Encarnar
Sacanear
Humilhar

Fazer sofrer
Discriminar
Excluir
Isolar
Ignorar
Intimidar
Perseguir
Assediar
Aterrorizar
Amedrontar
Tiranizar
Dominar

Agredir
Bater
Chutar
Empurrar
Ferir
Roubar
Quebrar pertences

O BULLYING é um problema mundial, sendo encontrado em toda e qualquer escola, não estando restrito a nenhum tipo específico de instituição: primária ou secundária, pública ou privada, rural ou urbana. Pode-se afirmar que as escolas que não admitem a ocorrência de BULLYING entre seus alunos, ou desconhecem o problema, ou se negam a enfrentá-lo.

De que maneira os alunos se envolvem com o Bullying?
Seja qual for a atuação de cada aluno, algumas características podem ser destacadas, como relacionadas aos papeis que venham a representar:

- alvos de Bullying - são os alunos que só sofrem BULLYING;
- alvos/autores de Bullying - são os alunos que ora sofrem, ora praticam BULLYING;
- autores de Bullying - são os alunos que só praticam BULLYING;
- testemunhas de Bullying - são os alunos que não sofrem nem praticam Bullying, mas convivem em um ambiente onde isso ocorre.

§ Os autores são, comumente, indivíduos que têm pouca empatia. Freqüentemente, pertencem a famílias desestruturadas, nas quais há pouco relacionamento afetivo entre seus membros. Seus pais exercem uma supervisão pobre sobre eles, toleram e oferecem como modelo para solucionar conflitos o comportamento agressivo ou explosivo. Admite-se que os que praticam o BULLYING têm grande probabilidade de se tornarem adultos com comportamentos anti-sociais e/ou violentos, podendo vir a adotar, inclusive, atitudes delinqüentes ou criminosas.

§ Os alvos são pessoas ou grupos que são prejudicados ou que sofrem as conseqüências dos comportamentos de outros e que não dispõem de recursos, status ou habilidade para reagir ou fazer cessar os atos danosos contra si. São, geralmente, pouco sociáveis. Um forte sentimento de insegurança os impede de solicitar ajuda. São pessoas sem esperança quanto às possibilidades de se adequarem ao grupo. A baixa auto-estima é agravada por intervenções críticas ou pela indiferença dos adultos sobre seu sofrimento. Alguns crêem ser merecedores do que lhes é imposto. Têm poucos amigos, são passivos, quietos e não reagem efetivamente aos atos de agressividade sofridos. Muitos passam a ter baixo desempenho escolar, resistem ou recusam-se a ir para a escola, chegando a simular doenças. Trocam de colégio com freqüência, ou abandonam os estudos. Há jovens que estrema depressão acabam tentando ou cometendo o suicídio.

§ As testemunhas, representadas pela grande maioria dos alunos, convivem com a violência e se calam em razão do temor de se tornarem as "próximas vítimas". Apesar de não sofrerem as agressões diretamente, muitas delas podem se sentir incomodadas com o que vêem e inseguras sobre o que fazer. Algumas reagem negativamente diante da violação de seu direito a aprender em um ambiente seguro, solidário e sem temores. Tudo isso pode influenciar negativamente sobre sua capacidade de progredir acadêmica e socialmente.

E o Bullying envolve muita gente?
A pesquisa mais extensa sobre BULLYING, realizada na Grã Bretanha, registra que 37% dos alunos do primeiro grau e 10% do segundo grau admitem ter sofrido BULLYING, pelo menos, uma vez por semana.

O levantamento realizado pela ABRAPIA, em 2002, envolvendo 5875 estudantes de 5a a 8a séries, de onze escolas localizadas no município do Rio de Janeiro, revelou que 40,5% desses alunos admitiram ter estado diretamente envolvidos em atos de Bullying, naquele ano, sendo 16,9% alvos, 10,9% alvos/autores e 12,7% autores de Bullying.

Os meninos, com uma freqüência muito maior, estão mais envolvidos com o Bullying, tanto como autores quanto como alvos. Já entre as meninas, embora com menor freqüência, o BULLYING também ocorre e se caracteriza, principalmente, como prática de exclusão ou difamação.

Quais são as conseqüências do Bullying sobre o ambiente escolar?
Quando não há intervenções efetivas contra o BULLYING, o ambiente escolar torna-se totalmente contaminado. Todas as crianças, sem exceção, são afetadas negativamente, passando a experimentar sentimentos de ansiedade e medo. Alguns alunos, que testemunham as situações de BULLYING, quando percebem que o comportamento agressivo não trás nenhuma conseqüência a quem o pratica, poderão achar por bem adotá-lo.

Alguns dos casos citados na imprensa, como o ocorrido na cidade de Taiúva, interior de São Paulo, no início de 2003, nos quais um ou mais alunos entraram armados na escola, atirando contra quem estivesse a sua frente, retratavam reações de crianças vítimas de BULLYING. Merecem destaque algumas reflexões sobre isso:

- depois de muito sofrerem, esses alunos utilizaram a arma como instrumento de "superação” do poder que os subjugava.
- seus alvos, em praticamente todos os casos, não eram os alunos que os agrediam ou intimidavam. Quando resolveram reagir, o fizeram contra todos da escola, pois todos teriam se omitido e ignorado seus sentimentos e sofrimento.

As medidas adotadas pela escola para o controle do BULLYING, se bem aplicadas e envolvendo toda a comunidade escolar, contribuirão positivamente para a formação de uma cultura de não violência na sociedade.

Quais são as conseqüências possíveis para os alvos?
As crianças que sofrem BULLYING, dependendo de suas características individuais e de suas relações com os meios em que vivem, em especial as famílias, poderão não superar, parcial ou totalmente, os traumas sofridos na escola. Poderão crescer com sentimentos negativos, especialmente com baixa auto-estima, tornando-se adultos com sérios problemas de relacionamento. Poderão assumir, também, um comportamento agressivo. Mais tarde poderão vir a sofrer ou a praticar o BULLYING no trabalho (Workplace BULLYING). Em casos extremos, alguns deles poderão tentar ou a cometer suicídio.

E para os autores?
Aqueles que praticam Bullying contra seus colega poderão levar para a vida adulta o mesmo comportamento anti-social, adotando atitudes agressivas no seio familiar (violência doméstica) ou no ambiente de trabalho.
Estudos realizados em diversos países já sinalizam para a possibilidade de que autores de Bullying na época da escola venham a se envolver, mais tarde, em atos de delinqüência ou criminosos.

E quanto às testemunhas?
As testemunhas também se vêem afetadas por esse ambiente de tensão, tornando-se inseguras e temerosas de que possam vir a se tornar as próximas vítimas.

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