A vaga da revolução eletronica está a chegar ao 
                                                        mundo da formação. Num 
                                                        futuro breve, a maioria 
                                                        dos trabalhadores, ligados 
                                                        ao computador, aprenderão 
                                                        a reciclar as suas qualificações, 
                                                        sem necessidade de deslocação 
                                                        geográfica. Os módulos 
                                                        formativos serão mais 
                                                        pequenos, focalizando-se 
                                                        apenas numa competência 
                                                        ou tema e sendo escolhidos 
                                                        pelo próprio trabalhador.
                                                        É o admirável mundo novo 
                                                        da "e-learning" - a aprendizagem 
                                                        com base
                                                        em tecnologia, em que 
                                                        os conteúdos de formação 
                                                        são entregues por via 
                                                        electrónica, por exemplo, 
                                                        através da Internet ou 
                                                        CD-ROM -, sobre a qual 
                                                        Ruben Eiras indagou a 
                                                        Elliot Masie, um dos especialistas 
                                                        mundiais
                                                        da formação via electrónica. 
                                                        
                                                      Ruben Eiras com 
                                                        Elliot Masie 
                                                      Versão reduzida publicada no Expresso 
                                                       
                                                      
 O que é "e-learning"? 
                                                      ELLIOT MASIE - É a capacidade de uma pessoa participar num evento 
                                                        de aprendizagem - que 
                                                        poderá ser uma aula de 
                                                        uma universidade ou de 
                                                        um centro de formação 
                                                        - utilizando a tecnologia 
                                                        como sistema de entrega 
                                                        dos conteúdos. Por exemplo, 
                                                        a seguir ao final de um 
                                                        dia de trabalho, a pessoa 
                                                        vai para casa ou outro 
                                                        local, e ligada ao computador, 
                                                        estuda durante uma hora 
                                                        ou duas sobre um assunto 
                                                        específico. 
                                                      Quais são os benefícios da formação "online" 
                                                        para os trabalhadores? 
                                                        
                                                      E.M. - Imaginemos que vender trabalho é como vender outro produto 
                                                        qualquer. Até agora, a 
                                                        pessoa podia fazer muito 
                                                        pouco para mudar o "produto" 
                                                        que tem para vender, isto 
                                                        é, a sua capacidade de 
                                                        trabalho. A aprendizagem 
                                                        sempre foi um processo 
                                                        de longa duração e de 
                                                        acessibilidade limitada. 
                                                        Assim, até há muito pouco 
                                                        tempo, para o trabalhador 
                                                        aumentar o seu valor no 
                                                        mercado de emprego, a 
                                                        única hipótese era frequentar 
                                                        uma escola nocturna, o 
                                                        que exige uma grande dose 
                                                        de auto-motivação. Com 
                                                        a "e-learning", a escola 
                                                        vai ter com o trabalhador. 
                                                        
                                                      Como assim? 
                                                      E.M. - Por exemplo, se um português quiser aprender programação 
                                                        em Java, através da formação 
                                                        "online", poderá tirar 
                                                        o curso com uma pessoa 
                                                        que trabalhe e ensine 
                                                        em Silicon Valley, na 
                                                        Universidade de Stanford, 
                                                        sem ter que se deslocar 
                                                        geograficamente. Isso 
                                                        é trazer a escola à pessoa. 
                                                        Também nunca se teve a 
                                                        capacidade de oferecer 
                                                        aprendizagem em unidades 
                                                        mais pequenas. Através 
                                                        da "e-learning" isso já 
                                                        é possível. 
                                                      De que forma a formação em módulos de menor duração 
                                                        pode beneficiar o trabalhador? 
                                                        
                                                      E.M. - A "e-learning" possibilita a focalização da aprendizagem 
                                                        numa competência específica 
                                                        ou num determinado conjunto 
                                                        de informação. Desta forma, 
                                                        com modalidades de formação 
                                                        mais pequenas e personalizadas, 
                                                        num regime de horários 
                                                        totalmente flexível, o 
                                                        trabalhador terá mais 
                                                        opções educativas para 
                                                        aumentar a sua empregabilidade 
                                                        durante o seu ciclo de 
                                                        vida, sem ter que parar 
                                                        de trabalhar. 
                                                      Todavia, actualmente o quotidiano mostra que 
                                                        muitas das pessoas que 
                                                        entram no mercado de trabalho 
                                                        não prosseguem os estudos. 
                                                        Porquê? 
                                                      E.M. - Nós temos um modelo social onde está convencionado que 
                                                        se não se possuir um nível 
                                                        educacional superior, 
                                                        vai-se trabalhar e a aprendizagem 
                                                        está acabada. Talvez no 
                                                        início seja fornecida 
                                                        formação no posto de trabalho, 
                                                        mas fica-se por aí. Este 
                                                        é o modelo típico da era 
                                                        industrial. Na era Internet, 
                                                        este sistema já está ultrapassado. 
                                                        Agora, trabalha-se e aprende-se. 
                                                        Não podemos continuar 
                                                        no esquema de aprender 
                                                        a profissão na universidade 
                                                        ou na escola e pensar 
                                                        que estamos preparados 
                                                        para toda a vida. 
                                                      Que condições são necessárias para a propagação 
                                                        da aprendizagem electrónica? 
                                                        
                                                      E.M. - Primeiro, é preciso existirem parcerias de negócios. 
                                                        E a iniciativa portuguesa 
                                                        da AcademiaGlobal.com 
                                                        é um bom exemplo. Não 
                                                        há muitos projectos com 
                                                        esta natureza, ou seja, 
                                                        a aliança entre uma empresa 
                                                        de formação e outra de 
                                                        telecomunicações. 
                                                      Porquê é que não é usual? 
                                                      E.M. - Porque a PT é a primeira companhia telecomunicações a 
                                                        identificar a "e-learning" 
                                                        como um negócio. É um 
                                                        elemento competitivo, 
                                                        pois uma grande empresa 
                                                        como a PT ao entrar neste 
                                                        mercado, de certeza vai 
                                                        acelerar o seu desenvolvimento. 
                                                        
                                                      Mas estávamos a falar das condições favoráveis 
                                                        ao "e-learning"... 
                                                      E.M. - Exacto. Continuando, a segunda condição é a capacidade 
                                                        da infra-estrutura tecnológica. 
                                                        Se não tivermos maior 
                                                        largura de banda para 
                                                        a casa das pessoas, pelo 
                                                        menos há que aumentar 
                                                        os locais de acesso, desde 
                                                        as bibliotecas aos locais 
                                                        de trabalho. O acesso 
                                                        móvel à Internet vai ser 
                                                        muito poderoso no processo 
                                                        de melhoria da infraestrutura. 
                                                        Em terceiro lugar, há 
                                                        que criar aprendizagem 
                                                        no idioma local. Portanto, 
                                                        no caso de Portugal, é 
                                                        crítico que se criem conteúdos 
                                                        em português, senão o 
                                                        "e-learning" será um fenómeno 
                                                        externo. Finalmente, há 
                                                        que adoptar regras de 
                                                        normalização e controlo, 
                                                        para a construção e qualidade 
                                                        dos conteúdos. Algum "e-learning" 
                                                        existente é horrível. 
                                                        Tem que se encontrar uma 
                                                        maneira de o avaliar, 
                                                        de mostrar a diferença. 
                                                        
                                                      Segundo várias pesquisas efectuadas, o número 
                                                        de desistências dos cursos 
                                                        "online" ainda é muito 
                                                        grande... 
                                                      E.M. - O "e-learning" ainda está num estado embrionário e é 
                                                        natural que isso aconteça. 
                                                        A Web nos primeiros dois 
                                                        anos de existência não 
                                                        funcionava, os sites eram 
                                                        horríveis. No princípio, 
                                                        a TV também não tinha 
                                                        muitos programas. Tudo 
                                                        depende do ritmo de desenvolvimento. 
                                                        Agora a maioria da "e-learning" 
                                                        é baseada em texto. No 
                                                        futuro será em vídeo, 
                                                        porque as pessoas não 
                                                        gostam tanto de ler. A 
                                                        aprendizagem será mais 
                                                        colaborativa e teremos 
                                                        mais simulação, para que 
                                                        se possa praticar, em 
                                                        vez de só aprender em 
                                                        teoria. 
                                                      Mas não existe o perigo do "e-learning" se focalizar 
                                                        naqueles que aprendem 
                                                        com maior rapidez? 
                                                      E.M. - É um perigo real. Nos EUA, discute-se vigorosamente sobre 
                                                        a divisão digital da sociedade. 
                                                        É verdade que a formação 
                                                        "online" está a começar 
                                                        na faixa populacional 
                                                        com um nível educativo 
                                                        mais elevado, mas acredito 
                                                        que a "e-learning" se 
                                                        espalhará às outras camadas 
                                                        menos literadas. A procura 
                                                        de talento no nosso mundo 
                                                        é enorme. E o talento 
                                                        aperfeiçoa-se com a aprendizagem 
                                                        e a formação dos recursos 
                                                        humanos. Por isso, acredito 
                                                        que a única solução para 
                                                        responder a essa procura 
                                                        será entregar aprendizagem 
                                                        às populações desfavorecidas. 
                                                        Com a política e motivação 
                                                        correctas, a tecnologia 
                                                        ser um meio privilegiado 
                                                        de estender a educação 
                                                        básica. 
                                                      
                                                       
                                                        
                                                           
                                                           
                                                            | Duas ideias sobre o trabalho | 
                                                          
                                                           
                                                            | 
                                                               Mísseis humanos...  
                                                                "Há uma guerra 
                                                                pelo talento, 
                                                                pelo trabalho 
                                                                especializado 
                                                                e pela capacidade 
                                                                de realizar coisas 
                                                                na economia. A 
                                                                capacidade do 
                                                                conhecimento ser 
                                                                utilizado como 
                                                                uma arma é enorme 
                                                                e a segurança 
                                                                nacional é baseada 
                                                                em parte na capacidade 
                                                                de focalizar a 
                                                                aprendizagem de 
                                                                acordo com a estratégia 
                                                                do país. Ou seja, 
                                                                deverá se utilizar 
                                                                o conhecimento 
                                                                e a aprendizagem 
                                                                da mesma forma 
                                                                que se constitui 
                                                                um exército. Se 
                                                                Portugal quer 
                                                                ser competitivo, 
                                                                tem que definir 
                                                                quais as competências 
                                                                tecnológicas específicas 
                                                                a desenvolver" 
                                                                  
                                                              ... e colarinhos cor-de-rosa  
                                                                "Hoje um agricultor, 
                                                                a título de exemplo, 
                                                                é um colarinho 
                                                                'cor-de-rosa', 
                                                                isto é, uma mistura 
                                                                entre o 'azul' 
                                                                e o 'branco', 
                                                                entre o trabalho 
                                                                muscular e o informacional. 
                                                                Tornou-se num 
                                                                'e-agricultor'. 
                                                                Numa quinta high-tech, 
                                                                a pessoa tem que 
                                                                ter a força muscular 
                                                                para trabalhar 
                                                                no campo, mas 
                                                                também tem que 
                                                                operar o computador 
                                                                durante todo o 
                                                                dia, actualizando 
                                                                as informações 
                                                                e introduzindo 
                                                                dados. Tem que 
                                                                saber quais os 
                                                                preços no mercado 
                                                                que lhe dirão 
                                                                'não plantar aquilo', 
                                                                'vender a minha 
                                                                colheita', 'levá-la 
                                                                para o mercado'. 
                                                                E hoje o agricultor 
                                                                realiza essas 
                                                                decisões através 
                                                                da consulta dos 
                                                                mercados agrícolas 
                                                                na Internet e 
                                                                com a ajuda de 
                                                                um dispositivo 
                                                                GPS no tractor 
                                                                para saber a localização 
                                                                das sementes e 
                                                                o seu estado de 
                                                                desenvolvimento" 
                                                                 
                                                             | 
                                                          
                                                           
                                                        
                                                       
                                                      
                                                       
                                                        
                                                           
                                                           
                                                            | AcademiaGlobal.com | 
                                                          
                                                           
                                                            
                                                              A 
                                                                AcademiaGlobal.com é o primeiro 
                                                                portal português 
                                                                de "e-learning", 
                                                                resultado de uma 
                                                                parceria da PT 
                                                                Multimedia 
                                                                com a Tracy International, uma 
                                                                empresa multinacional 
                                                                de formação. 
                                                                O objectivo do 
                                                                projecto é fornecer 
                                                                uma oferta integrada 
                                                                de produtos e 
                                                                serviços baseados 
                                                                na Internet, nas 
                                                                áreas de educação 
                                                                e formação, em 
                                                                língua portuguesa. 
                                                                "Basicamente, 
                                                                este portal irá 
                                                                originar conteúdos, 
                                                                distribuí-los 
                                                                e agregá-los. 
                                                                Ou seja, não pretendemos 
                                                                ser apenas um 
                                                                produtor, mas 
                                                                também afirmar-nos 
                                                                como o principal 
                                                                canal de distribuição 
                                                                dos conteúdos 
                                                                produzidos em 
                                                                língua portuguesa", 
                                                                explica Pedro 
                                                                Esteves, senior 
                                                                partner da Tracy 
                                                                International. 
                                                                Os fornecedores 
                                                                de conteúdos serão 
                                                                as universidades, 
                                                                as escolas técnicas 
                                                                e as empresas 
                                                                e entidades de 
                                                                formação. A AcademiaGlobal.com 
                                                                está dividida 
                                                                em três temáticas 
                                                                de conteúdos, 
                                                                a saber, educação, 
                                                                formação e cidadania. 
                                                                Os conteúdos formativos 
                                                                abrangem tanto 
                                                                a formação para 
                                                                competências nas 
                                                                tecnologias de 
                                                                informação, como 
                                                                também as competências 
                                                                "soft", relacionadas 
                                                                com o comportamento, 
                                                                a comunicação, 
                                                                a liderança e 
                                                                a educação para 
                                                                áreas específicas 
                                                                de negócio. O 
                                                                mercado alvo engloba 
                                                                o território nacional, 
                                                                os PALOP, o Brasil 
                                                                e as comunidades 
                                                                portuguesas espalhadas 
                                                                pelo globo.  
                                                             |