AS
COMUNIDADES PRIMITIVAS DE CAÇADORES
E COLETORES
Os
homens de Cro-Magnon viviam ao
ar livre, em bandos nômades. Desde
cedo aprenderam a cooperar uns
com os outros, para obter o alimento
necessário. Distinguiam-se de
seus antecessores por seu aspecto
físico e por serem caçadores especializados,
que faziam armas de pedra, marfim
e osso.
Através
de golpes no sílex (rocha dura),
produziam lâminas ou lascas estreitas,
a partir das quais surgiam facas,
pontas de projéteis montáveis
em cabo, raspadoras que possibilitavam
a produção de lanças, arpões,
dardos, bastões perfurados para
trabalhar o couro, perfuradores
e agulhas para costurar roupas.
Praticavam
uma economia coletora de subsistência:
dependiam da caça, da pesca e
da coleta, pois ainda não haviam
aprendido a produzir os alimentos.
Realizavam caçadas às manadas
de mamutes, renas, bisões, bois
e cavalos selvagens. Colhiam tudo
que lhes pudesse servir de alimento:
sementes, nozes, castanhas, frutos,
raízes, mel, insetos, ovos, moluscos
e pequenos animais.
Havia
uma rudimentar divisão do trabalho
segundo o sexo: tarefas que cabiam
ao homem, à mulher, à criança,
ao velho. A liderança natural
do bando era exercida pelo mais
forte. O conhecimento e as experiências
adquiridas eram transmitidos coletivamente
e incorporados à tradição comunitária,
como, por exemplo, as melhores
estações de caça, a distinção
entre plantas comestíveis e venenosas,
a escolha das melhores pedras
para se fazer ferramenta e a observação
das fases da lua.
As
cavernas naturais e as habitações
rudes feitas de galhos de árvores
constituíam as mroadias dos homens
do Paleolítico. Cada um deles
possuía apenas os seus utensílios
e ferramentas de uso pessoal.
As florestas, os lagos e os rios
eram usados e usufruídos coletivamente
pelo grupo, que vivia em regime
de comunidade primitiva. Nômades,
os bandos de homens primitivos
mudavam de região constantemente,
impelidos pelas variações climáticas
ou à procura de novas áreas de
caça e de rios mais piscosos.
Dentre
suas práticas espirituais, destacavam-se
os ritos funerários, nos quais
os mortos eram enterrados com
seus adornos e utensílios, e os
ritos mágicos destinados a assegurar
o abastecimento de alimentos e
de caça. Para isso, faziam pinturas
nas paredes das cavernas, representando
animais como mamutes, bisões ou
renas. Executavam também esculturas
em pedra de figuras femininas,
com significativas deformações:
seios grandes e enormes ventres,
que simbolizavam a fertilidade,
a fecundidade e a abundância.
O
fim das glaciações permitiu o
aparecimento de novos tipos de
comunidades, em regiões como o
Oriente Próximo e o Oriente Médio.
Trabalhando com a natureza, ao
invés de somente explorá-la, essas
comunidades concretizaram a chamada
"revolução agrícola" do período
Neolítico.
AS
ALDEIAS DE AGRICULTORES E PASTORES
A
passagem do Paleolítico para o
Neolítico se deu aproximadamente
entre 10 000 e 8 000 a.C., com
o fim das glaciações. A vida nômade
baseada na caça, na pesca e na
coleta de alimentos foi, aos poucos,
substituída por uma nova sociedade
em que o homem praticava a agricultura,
domesticava os animais, desenvolvia
a cerâmica e a tecelagem, usava
ferramentas especializadas de
pedra afiada e polida e vivia
em aldeias.
Adquirindo
maio domínio sobre a natureza
e melhor conhecimento das leis
de sua reprodução, o homem adquiriu
um controle sobre as fontes de
alimentação, aumentando, assim
o número de pessoas que podia
viver numa mesma área. Tudo isso
caracterizou uma verdadeira revolução
na vida do homem - a revolução
agrícola.
O
APARECIMENTO DA AGRICULTURA
Os
primeiros estágios da agricultura
iniciaram-se quando os homens,
pela observação, passaram a compreender
cada vez mais a respeito das plantas
e dos animais que usavam como
alimento. Verificaram que ao caírem
as sementes no chão, nasciam e
cresciam as plantas. Gradualmente,
tornaram-se experientes no cultivo
do trigo, da cevada, de tubérculos,
de frutas e hortaliças, e hábeis
em semear, ceifar, armazenar e
moer.
Provavelmente, foi domesticando
os filhotes dos animais que haviam
matado, que os homens aprenderam
a criá-los. Passaram a ter rebanhos
de bois, carneiro, cabras, porcos,
utilizando suas peles, carne e
leite. A abundância de lã e de
linho tornou possível a tecelagem.
Da
observação da terra endurecida
ao redor do fogo, nasceu a cerâmica
e a olaria. Potes, vasos e outros
recipientes passaram a ser largamente
utilizados para armazenar a água
e os alimentos e para cozinhá-los.
Ornamentados, esses objetos tornaram-se
importante manifestação da arte
neolítica.
A
agricultura era praticada de forma
bastante rudimentar, exaurindo
rapidamente o solo e obrigando
os homens a constantes mudanças.
Estes estavam agora organizados
em tribos, vivendo em cabanas
de madeira e barro, que formavam
as aldeias.
A
ALDEIA NEOLÍTICA
Os
arqueólogos acreditam que os primeiros
agricultores e pastores viveram
por volta de 8 000 a.C., nos vales
aluvionais do Oriente Próximo.
Por volta de 6 000 a.C., as comunidades
agrícolas haviam se propagado
através de todo o sudoeste da
Ásia e sul da Europa, espalhando-se
também pelo norte da África. Pesquisas
arqueológicas encontraram restos
de antigas aldeias em Jericó na
Palestina, em Qalat-Jarno na bacia
do rio Tigre e em Tell-Hassuna
no Iraque.
Com
a agricultura, a terra das aldeias
se tornou de uso comum dos clãs
e era lavrada coletivamente, assim
como os rebanhos, os celeiros,
as pastagens e as cabanas. De
uso individual permaneceram os
apetrechos de caça, os utensílios
de cozinha e o vestuário. Tudo
aquilo que se produzia era partilhado
equitativamente dentro de cada
grupo, havendo trocas entre as
aldeias apenas em ocasiões especiais,
tais como casamentos ou funerais.
Mesmo
sendo ainda de subsistência, existia
agora uma economia produtora de
alimentos e não mais apenas coletora.
O trabalho tornou-se então uma atividade constante
e coletiva, que mobilizava toda
a aldeia: era preciso drenar pântanos,
controlar as enchentes dos rios,
limpar florestas, semear os campos,
pastorear o gado etc. A divisão
do trabalho estava diretamente
relacionada com o sexo: as mulheres
deviam arar o solo, moer e cozinhar
os grãos, fiar, tecer, fabricar
os potes e os ornamentos; a limpeza
do terreno para o cultivo, a construção
das habitações, a criação do gado,
a pesca e o fabrico de ferramentas
e armas eram as tarefas masculinas.
Os
aldeamentos eram formados de habitações
pequenas, circulares ou quadradas
e sempre de material precário,
diferindo conforme a região. Próximo
às florestas, erguiam-se cabanas
construídas de troncos, próprias
das comunidades de caçadores e
pastores. Sobre as águas dos lagos
e rios, elevavam-se as palafitas
dos pescadores.
Durante
o período Neolítico, foram edificados
os monumentos "megalíticos"(mega
= grande; ithos = pedra), entre
os quais se destacam os menires
(enormes pedras de até 23 metros
de altura, encravadas verticalmente
no solo) e os dólmens (duas ou
mais pedras fincadas no chão,
cobertas por outras em posição
horizontal, formando uma espécie
de mesa). Esses monumentos provavelmente
serviam de culto aos mortos ou
para cerimônias em honra às forças
da natureza.
A
aldeia neolítica era auto-suficiente
com a população se ocupando em
atividades agrícolas, de pastoreio,
de tecelagem e na produção de
utensílios de cerâmica, de armas
e de ferramentas de pedra polida,
utilizados na própria aldeia.
Sua economia era pouco diversificada
e suas técnicas, rudimentares.
AS
PRÁTICAS
ESPIRITUAIS
A
grande dependência que os homens
do Neolítico tinham da natureza
e os precários conhecimentos sobre
a agricultura, o pastoreio e a
reprodução deram origem a crenças
e ritos mágico-religiosos, que
aparentemente tinham o poder de
garantir as colheitas e as caçadas
abundantes. Ninguém do grupo podia
desrespeitá-los, sob pena de severas
punições, pois ir contra os "misteriosos"
poderes que controlavam a fertilidade
do solo e a procriação das mulheres
e dos animais significava colocar
em risco a sobrevivência de toda
a comunidade.
Alguns
clãs e tribos se diziam descendentes
de determinados animais ou vegetais,
que eram venerados pelo grupo
caracterizando o fenômeno do totemismo.
O tótem podia ser uma ave, um
peixe, uma planta ou outro elemento
da natureza; era considerado sagrado
e símbolo do grupo. As cerimônias
rituais e mágicas eram exercidas
por "feiticeiros" que os membros
da aldeia julgavam possuir poderes
originais e que passavam a desempenhar
também atividades de chefia e
liderança.
Por
volta de 4 000 a. C., principalmente
nos vales dos grandes rios como
o Nilo, o Tigre, o Eufrates, o
Indo e o Ganges, os homens tiveram
necessidade de se organizar melhor,
a fim de obter uma maior produtividade
agrícola. Desenvolveram técnicas
de irrigação e criaram ferramentas
de bronze, utilizando o cobre
e o estanho, mais eficazes para
o trabalho.
A
agricultura passou a gerar excedentes,
permitindo a sua troca por matérias
primas indispensáveis. A população
aumentou; agora, um maior número
de indivíduos podia viver numa
mesma área dedicando-se a outras
atividades que não o plantio e
o pastoreio. Assim, as aldeias
neolíticas transformaram-se em
cidades, com profissões, classes
e governo.
Autores:
Fábio Costa Pedro e Olga
M.A. Fonseca Coulon