Pausa para a Filosofia

 

Abertura

Crônicas

Filosofia

Miscelânea

Contato

 

 

Miscelânea

 

Barsa
Textos publicados no sítio “Barsa”.

 

O aquecimento global e as geleiras da Antártica

A transformação nas condições do clima observada por meteorologistas afeta o fator temperatura, que aumenta em todas as regiões do planeta. Esse fenômeno é chamado "aquecimento global".

A mudança atual nas condições climáticas do planeta é um fenômeno anunciado por um contingente considerável de meteorologistas, que observaram que o clima sofreu, ao longo do tempo, mudanças periódicas no que se refere à temperatura, à umidade, ao regime de chuvas etc. Esses cientistas enfatizaram que, no momento atual, a transformação nas condições do clima atinge o fator temperatura, que aumenta em todas as regiões do planeta. Esse fenômeno é chamado "aquecimento global".

Os cientistas ainda não definiram, porém, se essas mudanças são normais, isto é, se fazem parte de um processo natural ou se as atividades humanas (especificamente as industriais e de consumo de energia) tiveram alguma influência na variação da temperatura. A Terra experimenta mudanças nos padrões climáticos aproximadamente a cada cem mil anos, enquanto a cada vinte mil ou quarenta mil anos ocorrem períodos de resfriamento. Assim, muitos cientistas consideram provável que estejamos vivendo um período de modificação climática drástica, mas natural. Entretanto, a preocupação com o fenômeno levou muitos pesquisadores e entidades internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), a estudarem o tema e a observarem se a atividade humana é ou não responsável, ou, pelo menos, se a ação humana é um agente que influi de forma severa ou parcial sobre a variação.

Efeito estufa

É a atmosfera — camada gasosa que envolve o planeta, formada principalmente por nitrogênio e oxigênio e, em proporções menores, por argônio, dióxido de carbono, hidrogênio e diversos gases inertes — que determina que as condições de vida na Terra sejam adequadas para as diferentes espécies e ecossistemas. Um dos fatores que a atmosfera regula é a temperatura. Isso se faz por meio de um fenômeno muito particular: o dióxido de carbono, em conjunto com o vapor d’água e outros gases, absorve parte das radiações que a terra emite, diminuindo assim a transferência de calor do planeta para o espaço exterior. O fenômeno tem o nome de "efeito estufa" e por isso os gases que o produzem se chamam "gases de estufa".

Muitos acreditam que o efeito estufa é um fenômeno produzido pela ação humana e negativo para o planeta. Mas é importante esclarecer que, quando se produz como processo natural, o efeito estufa é indispensável para o desenvolvimento das formas de vida, já que mantém regular a temperatura na Terra, tornando-a um lugar habitável. Um exemplo didático é a paisagem inóspita da superfície lunar, que não tem atmosfera.

No entanto, acredita-se que as atividades desenvolvidas pelo ser humano nos últimos 150 a 200 anos possam ter acelerado o processo de mudança climática, incidindo diretamente sobre o efeito estufa. A atividade industrial, a acelerada urbanização das cidades, o aumento do transporte com queima de combustíveis altamente poluentes, e o uso de tecnologias inadequadas e "sujas", aliados ao crescente desmatamento, estão deixando nosso planeta sem "pulmões", afetando a atmosfera com o aumento dos gases de estufa.

O dióxido de carbono (CO2) provém da decomposição da matéria orgânica, da respiração de animais e plantas e da combustão natural proveniente das atividades humanas. Esse gás, em processo natural, pode permanecer cem anos na atmosfera e é absorvido pelo processo de fotossíntese (pelo qual as plantas são as principais responsáveis) e pelos oceanos. Nos últimos duzentos anos, as concentrações de CO2 aumentaram em um terço. Nos países desenvolvidos, cada cidadão acrescenta ao ar, em média, cinco toneladas do gás. O CO2 é responsável por 50% do efeito estufa e a cada ano são lançadas mais de seis bilhões de toneladas desse gás na atmosfera.

O metano, embora sua quantidade seja menor do que a do CO2, tem uma forte atuação sobre o efeito estufa. É produto da decomposição da matéria sem a presença do oxigênio e por isso suas fontes principais são os pântanos, as plantações de arroz, os processos digestivos, corpos de animais e lixo em decomposição. Basta lembrar a crescente produção de lixo no mundo para calcular o aumento da liberação do metano, que se destrói inicialmente por meio de reações químicas em contato com outros gases da atmosfera.

Os clorofluorcarbonos (CFCs) são produtos químicos artificiais que contêm integrantes da família dos alógenos (que inclui bromo, cloro, flúor, iodo e astato) e o carbono. São usados em processos industriais e domésticos e todos os CFCs que se encontram na atmosfera são produto de aerossóis, solventes, produção de espumas e gases de refrigeração.

O óxido nitroso se encontra de forma natural nos oceanos e na terra. A atividade humana também contribui para sua emissão por meio de cultivos e do uso de fertilizantes, produção de náilon e queima de materiais orgânicos e de combustíveis fósseis (como o carvão mineral e o petróleo), que são atualmente uma das principais fontes de energia no mundo.

Esses são gases que, de maneira natural, existem na atmosfera e participam do processo do efeito estufa. As diferentes atividades humanas mencionadas aumentam a quantidade desses gases na atmosfera de forma descontrolada, transformando-a numa verdadeira muralha. Assim, a transmissão do calor é afetada por uma parede que evita sua saída, fazendo-o voltar e permanecer na terra e aumentando a temperatura. Além disso, o aumento da temperatura faz crescer a evaporação da água, que também se concentra na atmosfera e provoca um efeito amplificador na temperatura global.

O aumento da temperatura não é o único fenômeno que se relaciona com o aquecimento global. Há outras mudanças entre as quais se incluem:

aumento das secas nos continentes;

mudanças na freqüência, quantidade e distribuição das chuvas;

mudanças nas correntes oceânicas;

diminuição da camada de gelo e de neve;

aumento do nível do mar.

Ainda resta constatar se esse processo de aquecimento global é natural ou se a atividade humana é responsável por ele, num grau menor ou maior. O certo é que estamos diante de um fenômeno real, que é o aumento da temperatura em todo o mundo. Em 1988, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (PIMC), cujo objetivo fundamental é observar o fenômeno e suas possíveis conseqüências. O PIMC já fez uma advertência: se a situação continuar, até o ano 2100 os oceanos devem subir um metro por causa do acelerado ritmo de elevação marítima produzido pelo aumento da temperatura.

Apesar de todos esses fatos, verificados por grande número de cientistas, nem todos acreditam que o aquecimento global e a elevação do nível do mar tenham relação exclusiva com o efeito estufa. Alguns pensam que é apenas parte de um processo natural. Frederick Seitz e William Nieremberg, ambos cientistas americanos que estudam a questão do aquecimento global, afirmam que da década de 1880 até a de 1940 houve um aumento da temperatura (0,3 a 0,6 graus Celsius) e que essa alta correspondeu à atividade mais intensa do Sol e não ao efeito estufa ou à contaminação do ar, já que naquela época era baixa a queima de combustíveis fósseis.

Para o meteorologista brasileiro Luís Carlos Molión, a explicação para o aquecimento global não é a contaminação atmosférica e sim o fato de a atmosfera estar mais delgada, deixando passar mais intensamente os raios solares. A diminuição da camada atmosférica, segundo ele, é causada pela queda, em todo o mundo, da atividade vulcânica, já que são os vulcões que enviam ao ar os gases necessários para controlar o fenômeno.

Há ainda os cientistas que afirmam que o aumento do nível do mar é um fenômeno ligado a um processo de acomodação das placas tectônicas e que é por esse motivo que o mar estaria em nível mais alto em alguns pontos do planeta e mais baixo em outros.

Geleiras antárticas e o nível oceânico

Há vinte mil anos, quando terminou a última era glacial, a extensão das terras era maior: a Flórida, nos Estados Unidos, e as ilhas do Caribe eram maiores e uma faixa de terra ligava a Ásia à Indonésia. Daquela época até a atualidade, o mar subiu 120m. O dado não é alarmante porque, com a lentidão com que o processo avança, levaria muito tempo para que isso causasse danos à humanidade. Para alguns cientistas, o problema é que o efeito estufa está acelerando a elevação do nível dos mares. De 1993 até o momento, o nível das águas marítimas já subiu de 5 a 10 milímetros.

O efeito estufa afetaria de duas formas fundamentais o nível das águas oceânicas. O aumento da temperatura provocaria a dilatação da água (por causa do efeito da temperatura sobre as moléculas da água: no caso de um aumento, as moléculas se agitam e ocupam mais espaço) e, como os oceanos ocupam um espaço delimitado, o aquecimento da água elevaria seu nível. O segundo efeito do aumento da temperatura global seria sobre as geleiras, especificamente as antárticas, onde já são notadas algumas mudanças.

Mais de 95% do território da Antártica é coberto de gelo e o continente contém quase 70% de toda a água doce do mundo. Entretanto, alguns fenômenos que se produziram na região levam a duvidar de que essa fonte de água possa continuar intacta por muito tempo.

É fato que a temperatura global aumentou, embora ainda se discuta se o fenômeno é natural ou produzido pela atividade humana. Os dados e cifras mostram uma tendência em alta, confirmada nos pólos, aonde as temperaturas em alguns pontos chegaram a subir entre 1 e 2 graus Celsius, e suas conseqüências já se fazem sentir.

Em janeiro de 1995, uma imensa placa de gelo de 5.000km2 desligou-se lentamente da Antártica. Um mês depois, "soltou as amarras" e começou a navegar pelo mar. Para ter uma idéia mais clara do fenômeno, podemos imaginar a Jamaica navegando livremente sob a influência do vento e das correntes marítimas, sem um porto específico de chegada. Sabe-se também, por monitoramento de satélite, que o iceberg B10A, que se desprendeu da geleira Thwaites na Antártica em 1992, se aproxima das ilhas Malvinas (no Atlântico sul) a uma velocidade de 12km por dia. Esse iceberg é uma montanha de gelo que se ergue 90m acima da superfície do mar e mede 77km de extensão por 38km de largura. Estudos baseados nos informes de navegação, feitos por diferentes navios de passagem pelas imediações do pólo sul mostram que, de 1931 a 1987, diminuiu em 25% a quantidade de gelo maciço.

Na plataforma de Larsen (no extremo norte do continente branco), é evidente um fenômeno de desgaste. O gelo está rachado em grandes extensões e em 1997 surgiu na região um cânion de 20km de extensão, o que evidencia a gravidade do problema. Para ter uma visão melhor do assunto, cabe destacar que as plataformas são extensões de gelo, com a espessura de 1km, que se lançam a partir do continente.

O que aconteceria se toda essa grande massa de gelo se derretesse? Não significa que terminaríamos navegando num decadente navio petroleiro em busca de terra como um paraíso perdido, como no filme Waterworld (com Kevin Costner). Mas é interessante observar que este é um problema que já preocupa de maneira real muitos países do planeta. A aldeia Westkapelle, nos Países Baixos, que está a apenas 2m acima do nível do mar (o que explica o nome do país), já está protegida por quilômetros de diques para evitar que seja inundada pelas águas. Se os mares subirem, a ilha de Manhattan (centro da cidade de Nova York) desaparecerá. O governo dos Estados Unidos destinou cerca de trinta milhões de dólares para erguer um muro de aproximadamente 46.000km de extensão para proteger a ilha. Além disso, a maioria dos países com litoral extenso seria seriamente afetada e mais de trezentas ilhas do Caribe acabariam desaparecendo. Na Ásia, cidades como Ho Chi Min, no Vietnam, e Bangcoc, na Tailândia, situadas nas imediações de deltas de rios, sofreriam grandes inundações. A NASA pretende enviar em 2002 um satélite especialmente programado para medir as alterações das camadas de gelo polar.

As nações ricas podem enfrentar uma situação como essa porque têm dinheiro para realizar agora programas de prevenção e projetos que sua estabilidade social, política e econômica lhes permite, mas no caso de pequenos países, e principalmente de países pobres, a ameaça de uma inundação em grande escala se transforma num problema de sobrevivência. Por isso, 36 pequenos países insulares (como as ilhas Maldivas e Samoa Ocidental) formaram uma aliança para buscar a forma de prevenir os efeitos possíveis do aquecimento global e do aumento do nível dos oceanos.

Os cientistas não querem ser alarmistas, mas estão enfrentando o problema (qualquer que seja sua causa real) com seriedade, para tomar as medidas adequadas e evitar os riscos decorrentes de uma situação como a que se está começando a se delinear.

Fonte: Sítio Barsa