Mudanças Climáticas

Mudanças climáticas, o planeta em risco

A humanidade se depara pela primeira vez na história com um aumento incessante e perigoso da temperatura média em todo mundo

FEVEREIRO 2010


A TERRA EM PERIGO

O sinal do aquecimento global provocado pela atividade humana foi procurado e encontrado no aumento da temperatura média na superfície terrestre, que subiu 0,6°C no século XXI. Já em seu tempo, o físico-químico sueco Svante Arrhenius (1859-1927), Prêmio Nobel de química em 1903, foi um dos primeiros a assinalar que o consumo de carvão por parte do homem estava produzindo um aumento do dióxido de carbono na atmosfera, o que iria provocar um aumento da temperatura terrestre. Ele pensava que poderia ser um aquecimento benéfico para livrar-nos de futuros períodos glaciais.

Desde o princípio da Revolução Industrial, as concentrações de dióxido de carbono na atmosfera aumentaram 30%; as de óxido nitroso, 15%; e as de metano chegaram a quase 100%. Esses três gases, conhecidos popularmente como gases causadores de efeito estufa, se destacaram como os principais responsáveis pelo aquecimento global produzido pela queima de combustíveis fósseis. A mudança climática é hoje uma ameaça bastante real que implica aumento das temperaturas, elevações do nível do mar, alterações nas precipitações e maior intensidade de acontecimentos meteorológicos extremos. Seus efeitos se fariam sentir de forma especial na saúde humana, na agricultura, nas florestas, nas reservas de água e nos ecossistemas.

PREVISÕES ALARMANTES Para precisar impactos e prazos temporais da mudança climática no futuro, o Centro Hadley, líder mundial em previsão do tempo, supôs, em 1999, vários níveis de emissões de dióxido de carbono, o mais importante gás de efeito estufa. Concluiu que, se não fossem tomadas medidas para reduzir tais emissões, a temperatura média global em 2080 seria 3ºC superior à atual, de modo que a Terra se aqueceria duas vezes mais rápido que o oceano. Em 2050, o aumento da temperatura seria de 2°C e mais um bilhão de pessoas sofreriam a escassez de água.
Geleira Perito Moreno (Argentina), declarada Patrimônio da Humanidade pela UNESCO em 1981

 

Em caso de não se tomar nenhuma medida, a cifra subiria ainda mais e a escassez de água poderia afetar até três bilhões de pessoas. No que diz respeito à questão sanitária, os especialistas do Hadley calculam que, em 2080, 290 milhões de pessoas mais que no presente estariam expostas a contrair malária. Com as emissões estabilizadas, esse número poderia baixar para 175 milhões de pessoas.

A contenção das emissões estabiliza o clima e os impactos a longo prazo, exceção feita à elevação do nível do mar. O problema se deve ao fato de que o calor demora a penetrar nas profundidades das águas oceânicas e seu efeito, uma vez desencadeado o aquecimento, se mantém durante muito tempo. Por isso, a elevação do nível de mar, causada pela expansão da água e do degelo continental e ártico é o aspecto em que menos incidência tem a atenuação da mudança climática. As previsões indicam que o mar subirá quarenta centímetros até 2080 se não forem tomadas medidas para conter as emissões de CO2, e 27 cm no melhor dos casos. A elevação do nível do mar chegará a quase um metro dentro de dois séculos.

Continuando com as previsões da Universidade de East Anglia, na península ibérica as temperaturas subirão 0,8°C a 0,9°C até 2020, no caso mais favorável de emissões, e quase 6°C, no caso mais desfavorável, até 2080.
O relatório global GEO-2000, realizado pelo Programa Meio-Ambiental da ONU sobre a situação ambiental do planeta no começo do terceiro milênio, chegou à conclusão de que "o atual curso das coisas é insustentável, e já não é possível adiar as soluções por mais tempo". O relatório alertou especialmente para o problema emergente do nitrogênio: "Estamos fertilizando a terra em escala global de forma experimental e descontrolada". Uma das organizações ambientalistas mais importantes do mundo, a Worldwide Fund (WWF), insistiu no problema denunciando que a liberação de nitrogênio no ambiente pode alterar tanto o crescimento quanto a composição das espécies, e reduzir sua diversidade. Essa mesma organização está há anos aplicando o que chama de "Índice Planeta Vivo", que é uma combinação de três indicadores diferentes: a superfície da área florestal, as populações de espécies de água doce e as populações de espécies marinhas. Com esses indicadores, constatou que, entre 1970 e 1995, o planeta havia perdido um terço de sua riqueza.

Em 2001, apresentou-se um relatório do Comitê Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC) da ONU, elaborado por setecentos cientistas, sobre os efeitos do aquecimento terrestre ao longo do século XXI: um documento de mais de mil páginas que foi considerado uma das análises mais completas sobre os efeitos da mudança climática no mundo. Segundo o relatório, a mudança climática, causada principalmente por gases poluentes emitidos por indústrias e veículos, consiste num aumento das temperaturas em escala global. Isso provocaria, por um lado, a evaporação de mais água dos oceanos e, em conseqüência, o aumento das precipitações. Por outro lado, aceleraria a fusão dos gelos polares, o que faria subir o nível do mar. Tudo isso redundaria em mudanças nas correntes de circulação oceânica, reguladoras do clima mundial, e nas correntes de circulação atmosférica. O resultado final afetaria todas as regiões do mundo, embora nem sempre no mesmo sentido.

No relatório do IPCC falou-se dos principais efeitos globais da mudança climática: aumento da temperatura, aumento das precipitações, extinção das espécies e deslocamento da população mundial. Na Europa, haveria mais seca nos países mediterrâneos, mais produção agrícola no norte do continente e menos no sul, mudanças no turismo devido às ondas de calor no verão e à redução de nevadas no inverno, bem como o desaparecimento de metade das geleiras de montanha em um século. Na África, a redução das precipitações seria causa de menores safras, agravaria os déficits de água potável e provocaria mais desertificação. Não bastasse tudo isso, a elevação do nível do mar causaria, além da erosão costeira, grandes deslocamentos de populações no oeste, no sudeste e no Egito.
O continente asiático seria açoitado por mais ciclones e precipitações torrenciais no sul, mais catástrofes naturais, menor segurança alimentar, ainda que melhorassem as safras no norte. Na Oceania, a elevação de ou cinco milímetros anuais no nível do mar levaria à redução da superfície habitável nas ilhas do Pacífico, ao deslocamento de populações, à destruição dos recifes e à modificação das áreas de pesca.

A América do Norte sofreria o aumento dos furacões na costa atlântica, a redução das pradarias e o avanço de doenças infecciosas como a malária. A América Latina teria mais precipitações catastróficas, mais secas, mais cólera e malária. No pólos, o derretimento parcial da área de gelo provocaria mudanças na circulação oceânica que afetariam o clima de todos os continentes.

Em 2006, aconteceu em Curitiba a 8ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica da ONU (COP-8). Nela, foram debatidas questões como o "Desafio Micronésia", que consiste em aumentar a existência terrestre de pequenos países do Pacífico que lutam contra o aquecimento global e a degradação ambiental, os quais podem fazer com que os territórios das Ilhas Marshall, Estados Federados da Micronésia, Guam, Mariana do Norte e Palau em boa parte desapareçam.
Palau, por exemplo, é um minipaís de vinte mil habitantes na Micronésia, em pleno oceano Pacífico e pode, por razão do aquecimento global e da degradação ambiental - e os problemas que eles acarretam -, ter sua existência ameaçada, podendo, literalmente, ser apagado do mapa. O aumento do nível do mar pode colocar boa parte do pequeno país embaixo d'água. Além de destruir o país de vinte mil pessoas, o aquecimento global pode causar a extinção de 442 espécies endêmicas na Micronésia. São os pássaros, répteis e peixes de água doce em perigo.
Na Bolívia, por outro lado, o aquecimento global tem destruído a mais alta pista de esqui do mundo - 5.300 metros acima do nível do mar -, nos Andes bolivianos. As geleiras do lugar estão derretendo tão rapidamente que o local utilizado para prática de esqui pode desaparecer dentro de cinco anos por razão das mudanças climáticas.
Segundo Jaime Argollo, do Instituto de Investigação Geológica da Universidade Mayor de San Andres, em La Paz, o aquecimento global pode se transformar em um gigantesco problema, pois "a água das geleiras é fonte de água potável e também é usada para gerar energia elétrica" para a cidade de La Paz.

Em 2006, a revista Science publicou uma série de artigos nos quais se apontou que os últimos estudos responsabilizam o efeito estufa pela aceleração do derretimento das geleiras da Groenlândia e da Antártida, e que o mar pode subir até seis metros em 2100. Se o mar ganhar seis metros de água, mais de meio bilhão de pessoas teria de fugir da orla marítima mundial para o interior mais elevado.

CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA

A consciência ecológica da humanidade despertou tardiamente de forma global. Em meados da década de 1970, a preocupação com o estado da Terra fez surgir uma série de movimentos civis que combateram o modo de vida da sociedade industrial expansionista e insustentável. Em 1970, Edward Golsdmith fundou em Londres a revista The Ecologist. Um ano depois, nasceu o Greenpeace, na Colúmbia Britânica (Canadá), com ações diretas não-violentas contra os testes nucleares norte-americanos no Alasca. Em 1972, Goldsmith publicou o Manifesto pela sobrevivência, que abriu caminho para a criação de partidos ambientalistas nos países desenvolvidos. Em 1974, o francês René Dumont concorreu nas eleições legislativas francesas como candidato ambientalista e conseguiu 1,5% de votos. Essa década foi marcada pelo escapamento de dioxinas da fábrica química de Seveso (Itália), em 1976; pela maré negra nas costas da Bretanha provocada pelo naufrágio do navio Amoco Cádiz, em 1978; e pelo acidente na central nuclear americana de Three Mile Island, em 1979, que provocou o fechamento das instalações e a evacuação de mais de duzentas mil pessoas.

Na década de 1980, o movimento verde liderou as manifestações antinucleares na Europa e se consolidou como alternativa política na Europa. Foram anos de desastres ecológicos. Foram denunciados os efeitos da chuva ácida nas florestas da Europa e causou grande impacto a morte de três mil pessoas pelo escapamento de gases venenosos na filial indiana da Union Carbide, em Bhopal, em 1984. Os acidentes continuaram com a explosão no reator 4 da central nuclear soviética de Chernobil, em 1986, a maior catástrofe nuclear da história, com trinta mil óbitos causados pelos efeitos da radioatividade nos dez anos seguintes, e milhões de afetados. O remate trágico da década foi, em 1989, a pior maré negra da história, causada pelo naufrágio do petroleiro Exxon Valdez nas águas do Alasca.

A consciência ecológica chegou às Nações Unidas em 1987. A Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, presidida pela norueguesa Gro Harlem Brundtland, falou pela primeira vez em desenvolvimento sustentável, argumentando que progresso econômico e a proteção ambiental eram compatíveis. Na Cúpula Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada no Rio de Janeiro, em 1992 - conhecida como Eco 92 -, reuniram-se governantes, cientistas e ativistas pedindo medidas para a redução das emissões de gases de efeito estufa e a proteção da biodiversidade do planeta. Tudo isso culminou, em 1997, com a assinatura do Protocolo de Kyoto pelos países industrializados. Estabeleceu-se que o conjunto dos países desenvolvidos deveria reduzir em média, entre 2008 e 2012, 5% de suas emissões com relação às de 1990. A II Cúpula da Terra se realizou em 2002 na cidade sul-africana de Johannesburgo, com poucos avanços.


 

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