Folclore Brasileiro

 

O folclore inclui as criações e invenções culturais que nascem do povo coletivamente. No Brasil, a variedade de povos e tradições e a grande extensão do território contribuíram para a riqueza do folclore nacional.

Folclore e cultura popular. A palavra "folclore" vem do inglês folk, "povo", e lore, "sabedoria". Assim, a definição mais simples de folclore é "sabedoria popular". O que vem a ser isso? A sabedoria popular, de modo geral, são os conhecimentos de informações, histórias e tradições que passam de geração para geração e que são do "domínio público". Ou seja, aquilo que é conhecido por todos ou quase todos em um determinado grupo ou povo, sem qual se possa dizer exatamente quem os criou ou inventou.

O uso da palavra folclore foi proposto pela primeira vez, na Inglaterra, no século XIX, para designar aquilo que muitos chamavam de "literatura oral": as lendas, histórias, ensinamentos, provérbios etc. que não estão registrados nos livros nem são ensinados sistematicamente nas escolas ou outras instituições, mas são transmitidos de pessoa para pessoa, de pai para filho.

Com o tempo, a idéia de folclore se ampliou, passando a dizer respeito não só à literatura oral, mas também a outros aspectos da cultura. Assim, para entender o folclore, é preciso ter uma noção do que é cultura.

Em geral, no uso comum, o conceito de cultura está associado ao que se aprende nos livros, às obras de arte, à ciência, aos costumes "refinados" e "educados". Mas para quem estuda a sociedade humana, cultura tem um significado bem mais amplo — diz respeito a tudo aquilo que é criado ou transformado pelo homem. A idéia de cultura se opõe à de natureza. Isso não quer dizer que haja uma separação total entre uma e outra: na verdade, a cultura influi sobre a natureza, e vice-versa.

Por exemplo: vegetais como o arroz e o feijão pertencem ao reino da natureza; não foram criados pelo homem e podem crescer sem a influência humana. Mas o cultivo do arroz ou do feijão, como o de vários outros produtos, é uma atividade humana, assim como o preparo de diferentes pratos com esses alimentos.

A linguagem humana é um fenômeno natural, pois as pessoas já nascem com a capacidade de se comunicar por meio das línguas faladas pela humanidade. Mas é também um fenômeno cultural por excelência, pois só é aprendida e praticada na vida social. Outro exemplo é o corpo humano, um organismo animal sujeito a leis biológicas e físicas. Mas a maneira como o corpo é usado, tratado e valorizado pode variar muito, de acordo com o lugar e a época.

Pode-se dizer, portanto, que o conceito de cultura está ligado a todos os aspectos da vida humana. Os modos como o homem se comunica, trabalha, se alimenta, se veste, mora e se casa; os jogos, as cerimônias, as músicas, as danças, as crenças em seres sobrenaturais — tudo isso e muito mais está ligado à idéia de cultura.

Alguns estudiosos preferem classificar separadamente os vários aspectos da vida em sociedade. Os fenômenos econômicos seriam aqueles especificamente ligados às atividades de sobrevivência, de produzir e distribuir os produtos necessários à vida. Os fenômenos sociais estariam ligados à maneira como a sociedade se organiza (famílias, grupamentos, tribos, aldeias, classes etc.) e como as pessoas se relacionam entre si. Os fenômenos políticos teriam a ver com a maneira como o poder é exercido e com os conflitos que surgem entre indivíduos ou grupos.

Nesse tipo de divisão, os fenômenos culturais seriam aqueles onde predominam a expressão e a comunicação através de símbolos. Música, dança, enfeites e obras de arte, lendas e rituais (religiosos ou não) podem ter alguma função prática, mas são, principalmente, uma forma como as pessoas expressam, como representam, para si mesmas e para outras, aquilo que são ou como sentem ou encaram a vida. É através dos símbolos e manifestações culturais que as pessoas se vêem e reconhecem umas às outras como participantes de um mesmo grupo ou comunidade.

Essas divisões entre fenômenos econômicos, sociais, políticos e culturais não têm muita utilidade quando se estudam sociedades menores e mais simples. No entanto, são úteis quando se quer estudar sociedades complexas como a que se formou na Europa e se espalhou pelo mundo a partir do século XVI. E nesse tipo de sociedade, em que a escrita e o registro de informações (imprensa, discos, filmes, televisão, computadores) são muito difundidos, que faz sentido falar em cultura popular.

Nas sociedades sem escrita e entre as populações analfabetas (que formavam a maioria da humanidade até bem pouco tempo atrás), a transmissão de conhecimentos, informações e outros elementos culturais se dava através do contato direto, de comunicação oral. Nesses grupos e sociedades sem escrita, as variações sociais eram ou são relativamente pequenas e os costumes, práticas e tradições quase não variavam dentro do grupo.

A escrita permitiu à humanidade acumular um número cada vez maior de conhecimentos; além disso, o progresso e a especialização técnica, bem como o aumento das variações sociais e econômicas entre os vários grupos de uma mesma sociedade, fizeram surgir diferenças bem acentuadas entre o que todos ou quase todos praticam e o que só é acessível a algumas pessoas. Em outras palavras: nas sociedades modernas e com escrita, surgiu uma variação considerável entre a cultura tida como mais "refinada" ou "erudita" e a cultura popular (que, na verdade, também pode ser bastante refinada).

Entretanto, é importante lembrar que com a alfabetização da maioria da população e com os meios de comunicação modernos, o "povo" pode ter acesso a várias criações da cultura erudita e "absorvê-las" ou assimilá-las. Por outro lado, muitos artistas dedicados à cultura "erudita" inspiram-se em criações populares ou folclóricas. Assim, as fronteiras entre o "erudito" e o "popular" não são muito rígidas.

Podemos estabelecer também uma diferença entre cultura popular e folclore. A cultura popular inclui todas as criações, manifestações e símbolos que se podem observar na vida do povo; mas é o folclore propriamente dito que inclui aquelas criações e invenções culturais que nascem do povo coletivamente. Por exemplo, uma canção ou uma história popular tem data, local e autor ou autores conhecidos. Uma música ou uma lenda folclórica, por outro lado, é aquela que, mesmo tendo sido composta por alguém, já circulou tanto e foi tão modificada pelo povo que não se pode dizer que pertença ou seja a expressão de uma pessoa ou autor determinado. Quem compôs Atirei o pau no gato, ou Se essa rua fosse minha? Quem "escreveu" as histórias da carochinha? Quem teve a idéia de que beber no mesmo copo de outra pessoa permite conhecer-lhe os pensamentos? Quem "inventou" ou imaginou o saci e o bicho-papão? Tudo isso são criações populares, anônimas, que se vão modificando lentamente, mas sem perder sua essência. Diz-se em geral que o folclore traduz a "alma" e o caráter de um povo.

Um último esclarecimento: assim como tantas outras áreas de estudos, folclore designa tanto os fatos e fenômenos observados e estudados (as festas, lendas, músicas etc.), quanto a disciplina que se dedica ao estudo desses fatos.

Aspectos gerais do folclore brasileiro. O folclore brasileiro é muito rico e variado. Dois fatos contribuíram para essa riqueza: primeiro, a grande extensão do território do país, com paisagens naturais diferentes (climas, relevo, tipos de vegetação etc.). Como as atividades humanas em parte se adaptam às condições ecológicas e aos recursos naturais de cada lugar, desenvolveram-se atividades econômicas distintas em diferentes regiões do país. Essas atividades ajudaram a caracterizar diversos tipos de vida e cultura.

Assim, por exemplo, nas regiões costeiras, a pesca marinha fez surgir não só certos hábitos alimentares, de moradia, vestimenta etc., como também fez com que o mar e os animais marinhos aparecessem como um dos temas dominantes das lendas e crenças e histórias contadas pela população local.

As regiões do Brasil onde se formaram elementos folclóricos distintos são:

a) o litoral (no Nordeste, a Zona da Mata), onde a agricultura se desenvolveu
e onde tiveram máxima importância o trabalho e a cultura dos escravos;

b) a floresta amazônica: nela dominam o extrativismo vegetal, a caça e a
pesca fluvial;

c) os campos do Sul, de Minas Gerais e do interior do Nordeste, onde a vida
ligada ao pastoreio tem características bastante peculiares;

d) as áreas do interior, onde, a partir do século XVIII, o garimpo e a
extração de metais e pedras preciosas foram intensos e a vida era mais
nômade.

Outra razão para a riqueza do folclore brasileiro é a variedade de povos e tradições no país. Todo o território era habitado por povos ou grupos indígenas (que deviam somar alguns milhões de habitantes na época do descobrimento). Os portugueses que aqui se estabeleceram trouxeram consigo sua língua, costumes e tradições. Além dos europeus e dos indígenas, foi também marcante a presença dos africanos, trazidos como escravos para a lavoura e outros trabalhos.

Folclore brasileiro. Festas e comemorações festivas dão origem a algumas das principais manifestações folclóricas de todos os povos. As festas e comemorações podem ser religiosas ou profanas, mas essa divisão não é absoluta. Muitas vezes há uma combinação de eventos de cunho religioso com práticas profanas. No Brasil, as comemorações religiosas baseiam-se no calendário católico, como as festas de santos padroeiros. Entre os elementos profanos há os temas agrícolas ou pastoris. Festejos puramente religiosos são, por exemplo, as procissões. Entre as atividades profanas podem ser citados jogos e brincadeiras (muitas vezes com consumo de bebida alcóolica).

Festas religiosas. Destacam-se no Brasil quatro festividades religiosas — o Natal, o Divino Espírito Santo, o carnaval e São João. Cada uma dessas festas origina verdadeiros "ciclos", ou séries de festejos e outras atividades, que podem se estender por muitos dias ou semanas.

Natal. O Natal é a festa mais importante. Embora seja uma festa eminentemente familiar, ao Natal estão ligadas muitas manifestações folclóricas importantes, como as marujadas, as congadas, os pastoris e os reisados. O mais famoso dos autos do ciclo do Natal é o bumba-meu-boi. Surgido no Nordetes no fim do século XVIII, espalhou-se por várias partes do Norte e Sudeste. É uma representação bem-humorada e cheia de improvisos, com cantos, danças e declamações, da história de um boi (representado por uma pessoa fantasiada) que morre e ressuscita. A platéia participa ativamente da representação, dialogando com os personagens da história.

Mesmo acontecendo na época do Natal, o bumba-meu-boi perdeu os aspectos religiosos que originalmente o ligavam ao catolicismo. No Nordeste, na véspera e no dia de Reis (6 de janeiro) era muito popular o reisado, hoje quase esquecido. Constava de pequenas encenações teatrais que culminam no bumba-meu-boi. Tem duas modalidades: os ternos e os ranchos. O Pastoril, realizado na mesma época, tem como principal elemento as "pastoras" ou "pastorinhas".

Carnaval. O carnaval é outra festa de grande apelo popular. De origem cristã e européia, foi muito influenciado pela cultura negra. Chamava-se originalmente entrudo, e consistia em festejos ruidosos, com grande parte da população saindo às ruas com cantos, danças e algazarra. No Rio de Janeiro, o carnaval foi enriquecido com a criação das escolas de samba e os desfiles na cidade. Hoje em dia, as características folclóricas do carnaval, principalmente nas grandes cidades, estão cedendo lugar a outros elementos.

Manifestação folclórica ligada ao carnaval é o maracatu (realizado em Pernambuco e no Ceará). Trata-se de um cortejo que desfila e dança ao som de tambores e outros instrumentos de percussão. Sua origem são as cerimônias de coroação das rainhas e reis negros do Brasil colonial.

Divino Espírito Santo. Também chamado festa do Divino, é comemorado no dia do Espírito Santo, ou Pentecostes, cinqüenta dias depois da Páscoa. O festejo surgiu em Portugal, no início do século XIV, e chegou ao Brasil no século XVI. As comemorações incluem missa cantada, procissão, festa, leilão de prendas, apresentação de autos tradicionais, desfiles (cavalhada, por exemplo) etc. A folia do Divino é um grupo de cantores e músicos que, levando à frente a bandeira do Divino, percorre as localidades da região, tocando, cantando e recitando quadras. São recebidos festivamente nos povoados e fazendas, recebem contribuições para a festa e seguem caminho no dia seguinte.

No dia do Divino, uma criança ou um adulto é escolhido para ser o imperador do Divino, que dá audiências com todas as pompas de um verdadeiro governante. Tem os direitos de monarca e, em muitos lugares de Portugal e do Brasil, podia até mesmo ordenar a libertação de presos. É uma festa muito difundida no Brasuil, principalmente no Sudeste e Centro-Oeste.

São João. Trata-se de outra festa de origem européia, que comemora o nascimento do santo católico (noite de 23 para 24 de junho), mas à qual se juntaram, ainda na Europa, muitos elementos profanos. É uma festa alegre: fogueira, fogos de artifícios, bebidas, comidas e muitos jogos, danças e folguedos coletivos. Na tradição portuguesa, são João é tido como protetor dos namorados, e são inúmeras as estrofes e adivinhas populares ligadas a namoros, noivados e casamentos, não se falando da própria encenação de um "casamento da roça".

Bailados ou danças dramáticas. Como o nome diz, os bailados ou danças dramáticas são apresentações dançadas, com coreografia mais ou menos predeterminada, que contam ou comemoram algum episódio histórico ou lendário. Há vários desses bailados. Aquele em que se manifesta maior influência indígena são os caboclinhos, em que pessoas fantasiadas de índios encenam caçadas e combates ao som de flautas e instrumentos de percussão. Realiza-se no Nordeste, durante o carnaval.

Outro bailado é a marujada, de origem ibérica. Dançado por pessoas fantasiadas de marinheiros e que carregam um navio, representa a chegada de marujos que narram várias aventuras marítimas. Importante também é a congada (Norte, Sul e centro do Brasil), que apresenta elementos originários da África. É uma mistura de cerimônia de coroação de reis e rainhas negros, de representação de embaixadas ou missões diplomáticas que participam da coroação e de lembranças de feitos guerreiros e de lutas heróicas na África.

Muitos seres imaginários criados pela imaginação enriquecem o folclore. Na região amazônica, o mais famoso é o boto, que, segundo a lenda, se transforma num rapaz bonito e namorador que engravida as moças. É considerado o pai das crianças de paternidade ignorada. Há muitas crenças e ditos populares em torno dessa figura.

São muito numerosos os seres imaginários do folclore de influência indígena. Dois exemplos são o boitatá ("cobra de fogo"), que vive no mar ou no rio e queima e mata aqueles que incendeiam os campos, e o curupira, menino ou anão com cabelos vermelhos e pés virados para trás, protetor das plantas e animais, que espanta, mata ou castiga as pessoas que se embrenham nas matas.

De origem européia há o bicho-papão, a cuca (o papão ou bicho-papão feminino), o saci (negrinho de uma perna só, chapéu vermelho, cachimbo na boca e mão furada, às vezes considerado maléfico, às vezes brincalhão), a mula-sem-cabeça (amante de padre, que se transforma num animal que espanta as pessoas e solta fogo pelo nariz), o lobisomem e muitos outros.

Além de seres fantásticos e de lendas, o conjunto de informações e conhecimentos tradicionais, chamados de "sabedoria popular" ou "sabença", inclui as explicações populares para fatos naturais; as orações (contra doenças ou insucessos naquilo que se quer); receitas práticas e cuidados com a saúde; receitas mágicas e "simpatias", superstições etc. Dizem respeito a todos os aspectos da vida: namoro, casamento, nascimento, doenças, morte, trabalho, alimentação, previsão do tempo ou maneiras de controlá-lo etc. Há também os ditos e provérbios numerosíssimos.

Hoje em dia voltou a ser dada atenção especial às receitas e práticas de medicina popular, especialmente quanto ao uso de ervas e raízes com propriedades curativas. Percebeu-se que muitas dessas receitas e práticas, das quais uma boa parte foi tomada emprestada aos índios) têm fundamento e não são apenas crendices.

Os inúmeros contos populares são considerados pelos folcloristas uma das mais claras e profundas manifestações da cultura e das características de um povo. Além dos contos, há as adivinhações e as anedotas.

Folguedos e jogos. Outro tipo de manifestação folclórica diz respeito à recreação. São os folguedos e os jogos. Os primeiros representam em geral uma competição de habilidades ou uma luta de duas entidades opostas, associadas ao bem e ao mal, com o confronto entre duas equipes. Bons exemplos de folguedos são a cavalgada, o rodeio, a vaquejada, a tourada, a carreira de bois, a briga de galos, a capoeira, o mamulengo e o pau-de-sebo.

Os jogos em geral não contam com platéia, envolvendo apenas os que os praticam, e, ao contrário dos folguedos, não têm data marcada (embora possam estar condicionados ao clima, como os jogos ao ar livre, de salão para dias de sol ou de chuva etc.). Nos brinquedos, não há disputa ou competição, enquanto nas brincadeiras, individuais ou coletivas, há o desafio. Alguns jogos mais conhecidos são: truco, víspora, malha, morra. Entre as brincadeiras e brinquedos destacam-se: papagaio (ou cafifa, pandorga, pipa), boca-de-forno, gata-parida, pique (esconde-esconde, pegador, tempo-será), cabra-cega, cata-vento, perna-de-pau, rouba-bandeira, boneca, palitinho, pião, estilingue (atiradeira, seta), peteca, bola-de-gude etc.

Música e dança. Outro grupo muito importante de manifestações folclóricas é o das músicas e danças. As músicas ou canções folclóricas podem ser de vários tipos:

a) infantis, ou de roda (Pai Francisco entrou na roda, Eu sou pobre, pobre,
pobre, Ciranda, cirandinha, Eu fui no tororó, O cravo brigou com a rosa,
Teresinha de Jesus etc.);

b) de ninar ou de acalanto (Nana, neném, que a cuca vem pegar);

c) cantigas de trabalho, cantadas durante as tarefas agrícolas ou artesanais, ou
para anunciar e vender produtos ou serviços (pregões);

d) cantos de caráter religioso, entoados pela alma dos mortos ou em favor de
doentes (quando cantadas diante do corpo de um defunto são chamadas
popularmente de incelenças).

Ainda no campo da música, vale lembrar a variedade de instrumentos musicais de origem popular, geralmente de origem africana ou indígena. Agogô, berimbau, atabaque, chocalho (ganzá), pandeiro, reco-reco e muitos outros.

As danças folclóricas são geralmente classificadas como religiosas, profanas (de caça, de colheita, de plantio ou de fecundidade etc.) ou guerreiras. São várias as danças folclóricas no Brasil, mas é difícil identificar com exatidão suas origens, pois há muitas misturas e cruzamentos de influências. Algumas das mais conhecidas são o carimbó e o maxixe. O maculelê, de origem africana, é um exemplo de dança guerreira. Os dançarinos, sempre homens, entrechocam bastões de madeira, enquanto cantam e dançam, simulando uma luta. A capoeira — originalmente um tipo de luta — é às vezes praticada também como uma dança ou luta estilizada, ao som do berimbau e dos cantos ritmados de um coro formado por outros dançarinos-lutadores.

Cultura material. Um capítulo à parte são a culinária e alimentação, bem como o artesanato. Para muitos folcloristas, esses aspectos da cultura, chamados de cultura material porque são representados por objetos concretos, não pertencem ao folclore propriamente dito. Do folclore da alimentação fazem parte não só os pratos, bebidas e outras preparações, como também costumes culinários e regras de conduta nas refeições, além de crendices ("misturar manga com leite faz mal"; "donzela que senta à cabeceira da mesa fica sem casar") etc.

A origem do artesanato está ligada às atividades próprias de um grupo. Os indígenas contribuíram com cestaria ornamentada, confecção de redes, enfeites feitos com penas de aves e instrumentos de trabalho (como o tipiti, com o qual se expreme a água da mandioca ralada, para o preparo de farinha). No litoral tem-se, por exemplo, a técnica usada pelas rendeiras nordestinas; no interior do Nordeste, as carrancas, que são grandes cabeças de homem ou animal, presas na proa dos barcos que singram os rios, especialmente o São Francisco.

Esses poucos exemplos dão apenas uma idéia geral do folclore brasileiro. Cada região, área, lugar e grupo compartilham elementos culturais com outras regiões, grupos etc., e também criam e preservam seus símbolos e criações particulares.

Em tempo relativamente pequeno (em comparação com culturas e tradições africanas, européias e asiáticas), formou-se uma cultura brasileira que compreende elementos de várias culturas mais antigas. Nesses poucos séculos, o Brasil se transformou em um país em grande parte moderno, urbano, industrial, onde a chamada indústria cultural parece não deixar muito espaço para manifestações coletivas de caráter folclórico. Entretanto, o processo de criação cultural popular não se interrompe. Ainda que sua influência tenha diminuído, muito do folclore continua sendo transmitido e é constantemente enriquecido por novas experiências e conteúdos, embora num processo lento, nem sempre aparente. Isto porque o folclore e a cultura popular — que fazem parte do mundo dos contatos pessoais diretos, da troca de experiência, da expressão coletiva — podem conviver com o mundo da cultura moderna, das universidades, laboratórios, livros, televisão e computadores.


Fonte: Editorial Barsa Planeta, Inc. Todos os direitos reservados.

 

Subir


Google
Web www.miniweb.com.br


http://www.miniweb.com.br


Músicas Carnavalescas